sábado, 23 de agosto de 2008

Pudico Poema Púbere

Eu queria um poema
Versando seus seios
Palavras rimadas
Fruto de meus dedos

Saliva é tinta
Sua pele, papel
A língua, às vezes,
Se faz de pincel

Arrepio dos pêlos
Pelo corpo febril
Em bom desconcerto
E o tremor já senil

Anseios suados
Ousados receios
Desejos, delírios
Líricos devaneios

[Eu queria um poema
Furtando seus medos
Mas já havia poesia
Sob os versos, seus seios]

domingo, 10 de agosto de 2008

Agosto

Ela disse que chorava estrelas, foi quando comecei a envelhecer. Ela, em anos, muito me passava, em espírito... Ainda menina. Poesia não tem idade, pensei. O nome engraçado, desses de personagem. Gente inventada.

Olha ela, tão pequena, ao teclado. "Teclado não, piano" Sendo maior na música, viu? Na ponta dos dedos. Nós pés leva a paixão: sapatilha, sapateado. Essa guria, meu deus, não tem jeito. Cismou de ser engenheira. Engenharia lírica, já existe? "É que eu preciso escrever..." . Essa menina.

Vai ela sorrindo, mirando o chão: paixonite. Quando te olhar vai estar com as bochechas vermelhas dizendo "Timidez" como quem desafia. É, eu sei que lembra aquela de Rita Apoena. Eu disse, não disse que era poema?

Eu manco e calvo. Ela distraída:
- Viu o céu cinza? Que coisa linda, linda. Acho que vai chover...
- Chuva em agosto, minha jovem?
A cor tomando o rosto, quase séria:
- Seu chato!

Foi sem deixar resposta. Deixou a chuva e depois, ainda úmidas, estrelas. Lágrimas.

(Cinco de agosto: Envelheci, inverso, meus últimos anos: excesso de encanto)
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Para Natacha. À guisa de gracejo e lembrancinha.