sexta-feira, 12 de junho de 2009

Se você não percebeu...

...esse blog acabou. Você pode achar o preguiçoso autor de todas essas belezuras aqui. Ou pode ser feliz e ir dormir.

sábado, 8 de novembro de 2008

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Trovejei
Trovoei em riso
D'água luz cantar
Tá, voltei com risco
De afogar na nuca do ar
O luar que agora confisco
Como juros da dívida do mar

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domingo, 2 de novembro de 2008

Pequeno roteiro para devaneio noturno

Vai um trecho de uma bobagem que não cabe neste canto.


[...]quando meu peixe morreu, sua cor rubra desbotou em branco e rosa de um jeito tão triste, sua boca ficou aberta de forma tão patética que, ao me despedir, só conseguia pensar se a privada não entupiria. não entupiu, e nunca me senti tão sujo[...]


O resto está abrigado aqui.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

José, Eulália ou Conto Comum

Eulália e seus sete homens insubmissos, José chora ouvindo Chico. Quando Eulália pára e mira José, ele sorri de bobo e lembra de uma música qualquer. Ela diz que não, o cansaço de tantos meninos.Ele ignora e busca na sua nuca cada sim.

José sai distraído pro trabalho, um beijo no canto da boca da mulher, um cafuné ligeiro nos filhos. Eulália suspira liberta e vai cuidar da casa e dos outros cinco. Mal-mal a casa respeita e os meninos ficam melhores no colégio. Volta, varre, passa e no meio da tarde vai passear na casa do sétimo.

Ela volta ao lar com medo de José notar os vermelhos. Mas ele está distraído, cantarolando uma bossa com nome de outra. Os meninos chegam com caos, cansaço e barulho. Quando silêncio, ela quer dormir, no entanto, José vem sorrindo nostálgico. Eulália nem diz não, só tenta esconder a nuca... Ele ainda sabe rendê-la por outros suspiros.

No domingo à tarde tem visita: Chico, velho amigo de José vem dedilhar velhas lembranças. Eulália arruma os moleques, põe mais água no feijão, varre, encera, se apruma, se veste e põe os brincos. José nem repara, Chico acha graça e os moleques se aquietam pra ouvir as histórias da visita. Eulália, cara fechada, finge que não gosta: implica. É que Chico, velho amigo de José, é o sétimo.

Findo o almoço os meninos vão jogar bola na rua e os homens vão se lembrar na varanda. José com seu velho caderno pardo e Chico com seu violão descolorido. O primeiro mostra nova letra sobre velha paixão, o outro lê, arrisca dois ou três acordes e usa aquela velha harmonia. No ritmo certo de saudades saturadas.

Eulália, por trás das cortinas, ouve calada. A cadência das palavras sob as mãos do sétimo... A vida pela voz gostosa da poesia. Ela vê Chico artista clareando o domingo com sentidos enormes enquanto José traga lamentos e soluços. Chico canta outra, talvez Maria ou Lúcia, mas canta amor. Amor que Eulália também guarda. Ela querendo só ser samba do outro...

[...]

José esconde o caderno pardo como medo de Eulália descobrir as outras e vai vê-la sentada na beira da cama, tirando os brincos que ele lhe deu. Não eram os brincos da última, Clarice?
Eulália conhece esse olhar de José. Quando ele vem e passa as mãos pro trás de seu pescoço ela sente Chico dedilhando em seus cabelos. Quando José sussura aquela jura esquecida que era para a última, Eulália reconhece a letra de uma música de Chico.

[...]

(E os filhos, todos os cinco, não são de outros ou últimas: são de José e Eulália e seu amor curtido, contido e fingido. )

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Decigramas Por Litro

Tem álcool nos seus olhos. É por isso que o vermelho já é tão rubro e vai desbotando o castanho. É por isso que não transborda mais. Fica a ardência formigando a vista para distrair o resto, o todo. O coração pulsando baixinho para se passar despercebido, o peito respirando longo quase para parar. Só pele e pêlos às vezes se animam sob vento e o frio. Sangue deveria esquentar, mas algumas coisas são bebidas abaixo de zero. O gosto de gelo na boca e na garganta, o cheiro nas mãos e na roupa. A dor de ausência na barriga...Lado esquerdo ou direito? Os dentes meio amotinados tremem exigindo atenção, se chocam dando sinal. Abrace seu peito e dobre as pernas, fique menor pra precisar de menos calor, calma ou alma. Seus olhos vermelho-água ilhando esse castanho-comum. Acho que beberia seus olhos... Mas fico com a sobriedade? Parece criança, assim encolhida. E esse novo tremor é tão senil. Adolescentes. O corpo batendo no chão, batendo errado. A culpa é do ar e garrafas. Vomitar não adianta, vê: o álcool já subiu para os olhos. E ainda resta muito castanho...

Se eles se fecharem, te cubro.
Se eles me olharem, os bebo.

Até lá:

-Mais uma dose?

sábado, 23 de agosto de 2008

Pudico Poema Púbere

Eu queria um poema
Versando seus seios
Palavras rimadas
Fruto de meus dedos

Saliva é tinta
Sua pele, papel
A língua, às vezes,
Se faz de pincel

Arrepio dos pêlos
Pelo corpo febril
Em bom desconcerto
E o tremor já senil

Anseios suados
Ousados receios
Desejos, delírios
Líricos devaneios

[Eu queria um poema
Furtando seus medos
Mas já havia poesia
Sob os versos, seus seios]

domingo, 10 de agosto de 2008

Agosto

Ela disse que chorava estrelas, foi quando comecei a envelhecer. Ela, em anos, muito me passava, em espírito... Ainda menina. Poesia não tem idade, pensei. O nome engraçado, desses de personagem. Gente inventada.

Olha ela, tão pequena, ao teclado. "Teclado não, piano" Sendo maior na música, viu? Na ponta dos dedos. Nós pés leva a paixão: sapatilha, sapateado. Essa guria, meu deus, não tem jeito. Cismou de ser engenheira. Engenharia lírica, já existe? "É que eu preciso escrever..." . Essa menina.

Vai ela sorrindo, mirando o chão: paixonite. Quando te olhar vai estar com as bochechas vermelhas dizendo "Timidez" como quem desafia. É, eu sei que lembra aquela de Rita Apoena. Eu disse, não disse que era poema?

Eu manco e calvo. Ela distraída:
- Viu o céu cinza? Que coisa linda, linda. Acho que vai chover...
- Chuva em agosto, minha jovem?
A cor tomando o rosto, quase séria:
- Seu chato!

Foi sem deixar resposta. Deixou a chuva e depois, ainda úmidas, estrelas. Lágrimas.

(Cinco de agosto: Envelheci, inverso, meus últimos anos: excesso de encanto)
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Para Natacha. À guisa de gracejo e lembrancinha.