terça-feira, 17 de junho de 2008

Seis horas, dezessete minutos e doze segundos

Eu, café, caderno e lápis. Madrugada e nem uma linha. O lápis vira baqueta e o grafite despedaça sob minha mão enquanto batuco um samba que esqueci a letra.

Café com canela.Ligo a tevê? Não, hoje não: essa noite eu viro sóbrio. Penso e releio os rabiscos: "meus amores agora dormem embalados pelo meu descaso, outros braços, você sabe, outros". Bobagem! Risco, rasuro, estrago. Foi-se a época dos treze. Do amor, não digo de novo. Vai ver só se ama aos treze. Aquela menina da quinta já tinha corpo e era ruiva! Ruiva nessas bandas, meu deus, ruiva! Já beijava também... Algum qualquer. Primeiro desgoto, primeiro... Não, amor não: hoje, sóbrio.

Ainda tem café na garrafa. Caneca engraçada... Olha só, se eu soubesse desenhar seria bem mais fácil: desenharia em canecas e viveria do café alheio. E se.. canecas com poemas? Há poesias até em banheiros, pq não em canecas? Linhas curtas e simples. Isso, escrever poemas pra canecas! Canela. Capela. Ela. Ela quem, deus? Quimera. Quimera não, vai. Quem bebe não quer saber de quimeras. Ninguém mais quer. Tá esfriando. De onde eu inventei de pôr canela nisso? Engraçado, muito. Merda, o poema! Ninguém mais sabe de poesia (ainda bem). Esquece a canela. Caneca, digo.

Sóbrio? Com sono é foda. Cadê a garrafa? Ainda tem! E o samba de quem era? Cartola, pô! "Elas apenas exalam..." "Imagina se uma rosa falasse, que rídiculo que seria..." O Germano não bebia café, bebia uísque. Uísque? Não, viro sóbrio, já disse. Viro o copo? Ah! Engraçadinho. "Meus amores agora dormem" o caralho. Eu que devia estar dormindo. Mas está cheia (mentira, é lua nova). "outros braços, meu descaso". Lixo. Esse café tá me deixando bitolado. Eu tenho insônia mesmo. Ela também. Longas noites, bons tempos. Putz, como se eu fosse velho assim. Bons tempos demoram décadas para mandar lembranças. Sacana. A idade. A insone. Ai ai.

É melhor escrever amanhã, quando sóbrio. Já virei a noite? Duas ou três? Quase seis. O Sol nasce lá pras seis e dezessete. Hoje eu quero ver os segundos. Na tevê está passando o que? Tevê não, por favor. Pastores e pornografia. Deve dar audiência. "Eu não sou audiência para a solidão". Nossa, essa música é muito ruim! Mas a idéia...dá num conto. Amanhã eu escrevo que esse lápis não aponta mais. Mas ainda tem café! Tudo a ver. Até que a idéia da caneca era boa, eu falava com o sogrão e ele... Ex-sogro, diga-se. A filha...! E ele era influente... Fodas, filha vadia. Amores, falar de amor em canecas com café e canela. Ela... Talvez aos treze. Seis e treze, olha só! É sinal, só pode! Garrafa vazia, restou canela. Se eu durmir, sonho com ela. Tevê, melhor a tevê! Sóbrio, nela não. Sóbrio. Sóbrio. Só. Tenha dó! Foi-se os treze, nada de ruivas ou filhas. Dormem em outros braços. Deixa, deixa: descaso. Palavra de ordem: Descaso! Só não descanso.

Nem canela mais...


Ouvindo: "Sobre ser sentimental" e "Reveillon", Ecos Falsos

7 comentários:

buh . disse...

Lindo e inquietante.
Bem real.

Boaaa, GustHavo!


:**

Anônimo disse...

Gu...
Esse adorei, bem real, bem critico, bem...Gustavo!

Júnia disse...

Ótimo texto de cabeceira, digamos. :)

Anônimo disse...

puutz!

que liindo esse seu jeito de escrever!

viciante!

[e eu fiquei com dó do cara]

Unknown disse...

Tem mais canela????

Bom demais!!!

Desconfiei desde o proncípio...tem Talento....

Boa Amor!

Caraca até a Ingrid comentou...rsrsrrsrs

My Lord....

Cadu Oliveira disse...

E ae.

Parabéns pelo texto. E porque não dizer pelo blog? Gostei.

Obrigado pela visita.

Grande abraço.
Até.

Anônimo disse...

ainda são mto bons! ;)